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Henry Wallon





Educação: Entre o indivíduo e a sociedade
Tratando de temas como emoção, movimento, formação da personalidade, linguagem, pensamento e tantos outros, Wallon fornece um valioso material para a adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança. Wallon também tratou de explicitar as suas considerações  acerca da educação.
A educação tradicional, tendo por objetivo transmitir aos alunos  a herança dos antepassados e assegurar-lhe o domínio de ideias e costumes que lhe permitiriam melhor se adaptar a sociedade tal como é estabelecida, prioriza a ação dos adultos sobre a juventude e acena com a perpetuação da ordem social, porém o movimento da escola nova, ao buscar romper com a opressão do individuo pela sociedade, acabou por desprezar as dimensões sócias da educação, preconizando o individualismo.
A ideia de uma personalidade que se forma isolada da sociedade é inconcebível para a perspectiva walloniana, segundo a qual é na interação e no confronto com o outro que se forma o indivíduo. Ele considera, portanto que a educação deve, obrigatoriamente, integrar, á sua prática e aos seus objetivos, essas duas dimensões, a social e a individual: deve, portanto, atender simultaneamente à formação do individuo e à da sociedade. As ideias de Rousseau quanto à uma educação ativa, concreta e adequada ao desenvolvimento da criança serviram como fonte de inspiração para as doutrinas da ESCOLA NOVA.
Para Wallon ao tentar resgatarem o valor do indivíduo, simplesmente inverteriam os princípios e praticas do ensino tradicional. Contrapondo-se ao autoritarismo do ensino tradicional, os escolanovistas defendiam a condução do ensino pelo interesse da criança; como se a sua natureza fosse, por si só, capaz de todo desenvolvimento e como se qualquer intervenção do adulto fosse prejudicial. Questionando o caráter demasiado livresco do ensino clássico, postulavam a necessidade de ação concreta da criança, como se ela pudesse aprender tudo pelos órgãos dos sentidos.Valorizando por demais a atividade da criança em sua espontaneidade, acabavam por anular a necessidade do ensino sistematizado e da intervenção do professor. Na busca de instaurar o respeito pelo indivíduo e acabar com a opressão exercida pela sociedade, a Escola Nova ignorava as dimensões sociais da educação, e preconizava o individualismo. Inspirados na atitude oposicional de Rousseau deixavam sem solução a dicotomia entre indivíduo e sociedade.
Ainda nos dias de hoje nos debatemos sobre o autoritarismo das concepções tradicionais, infelizmente predominantes no cenário educacional. Neste debate (se é possível considerar um debate) mantém-se na nossa realidade o risco de espontaneísmo que Wallon atribui a Escola Nova. A superação do dilema entre o autoritarismo dos métodos tradicionais e o espontaneísmo das praticas que se pretendem renovadas demanda um raciocínio dialético, que enxergue as complexas relações de determinação recíproca que existem entre indivíduo e a sociedade.

Dimensões Políticos-sociais da educação
A solução para esse impasse não se atinge somente com um debate acerca dos métodos pedagógicos. Demanda uma reflexão política sobre o papel da escola na sociedade. Segundo Wallon, entre o regime político de determinada sociedade e o sistema educacional nela vigente a relação não de mera casualidade. Mesmo que colocada explicitamente, a educação tem sempre um papel político.
Se os regimentos políticos prolongam seus objetivos à educação, esta deve, por sua parte, apropiar-se de seu papel político. Para isso é preciso ter claro o projeto de sociedade que se quer. No caso de Wallon, a opção é clara por uma sociedade socialista, caracterizada pela democracia e justiça social.
Então é elaborado um projeto Langevin-WALLON, elaborado por pessoas comprometidas com a reconstrução da sociedade, abalada física e moralmente pela guerra, o projeto destaca a responsabilidade da educação neste processo. Propunha a realização de mudanças profundas no ensino, visando acabar com a perversa seletividade do sistema. Organiza todos os âmbitos do sistema de ensino( administrativo, curricular, metodológico) em torno do princípio de justiça social e os apoia sobre o conhecimento científico do ser humano em desenvolvimento. Propunha o atendimento simultâneo das aptidões individuais e das necessidades sociais, baseado na ideia de que o aproveitamento mais adequado das competências de cada um se da o beneficio do individuo e da sociedade, assim como a melhor distribuição das tarefas socias serve ao interesse coletivo e á realização individual. Para a descoberta dos gostos e preferências individuais previa um trabalho de orientação vocacional, a ser realizado pelo psicólogo escolar.
Ao lado dos procedimentos psicopedagógicos, o projeto previa procedimento de natureza financeira- além da gratuidade do ensino, incluíam a implantação de um regime de remuneração ao estudante para assegurar a todos os indivíduos o pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
Ciente de que não se pode alcançar a justiça social somente com mudanças no sistema educacional, o texto do projeto alerta para a necessidade de mudanças na maneira de a sociedade, encarar as varias tarefas sociais.


Uma educação da pessoa completa
A ótica Walloniana constrói um criança corpórea, concreta, cuja eficiência postural, tonicidade muscular, qualidade expressiva e plástica dos gestos informam sobre seus estados íntimos. O olhar se dirige demoradamente para a sua exterioridade postural, aproveitando todos os indícios. Supõe-se que a sua instabilidade postural se reflete nas suas disposições mentais, que a sua tonicidade muscular dá importantes informações sobre seus estados efetivos”.
Ao contrario do que propõe a tradição intelectualista do ensino,uma pedagogia inspirada na psicogenética Walloniana não considera o desenvolvimento intelectual como a meta máxima exclusiva da educação, considera meio para a meta maior do desenvolvimento da pessoa, afinal, a inteligência tem status de parte no todo constituído pela pessoa. Se é possível delinear uma escala para o desenvolvimento da pessoa, o grau mais elevado corresponderia a um estado de máxima diferenciação, em que é tanto mais clara a fronteira entre o eu e o outro e mais exatas as distinções que o sujeito opera entre as nunances e a complexidade do real.
“ Ciente de que os progressos do pensamento se devem em grande parte ao crescente domínio do sistema semiótico e que a capacidade de diferenciação é poderosamente auxiliada pela apropriação das diferenciações elaboradas pela cultura e cristalizadas nos sistemas simbólicos, particularmente no código linguístico, a linguagem, a pedagogia Walloniana não se furta a transmitir conteúdos. A diferenciação conceitual que a criança faz, ou a capta, já realizada, na língua, são ambas aceitáveis. O uso preciso e ordenado das palavras é entendido como manifestação de eficiência e rigor do próprio processo mental. Longe de desprezar a aprendizagem linguística, ela considera um poderoso auxiliar no progresso do pensamento”.
A psicogenética Walloniana não resulta em uma pedagogia meramente conteudista, limitada a propiciar a passiva incorporação de elementos da cultura pelo sujeito. Resulta em uma prática em que a dimensão estética a realidade é valorizada e a expressividade do sujeito ocupa o lugar de destaque. Na escola , este movimento de exteriorização do eu pode ser propiciado por atividades no campo da arte, campo que favorece a expressão de estados e vivências subjetivas.
Organização do ambiente escolar
O meio é o campo sobre o qual a criança aplica as condutas de que dispõe, ao mesmo tempo, é dele que retira os recursos para sua ação. Com os progressos no campo da motricidade práxica, ganha autonomia para agir diretamente sobre o mundo dos objeitos e, com a aquisição da linguagem (oral e depois escrita) adquire recursos cada vez mais sofisticados para interagir com o conjunto de técnicas e conhecimentos de sua cultura.
Sabendo disso deve-se dizer que o planejamento das atividades escolares não deve se restringir somente à seleção de seus temas, isto é, do conteúdo de ensino, mas necessita atingir as várias dimensões que compõem o meio. A estruturação do ambiente escolar, deve, por fim, conter uma reflexão sobre as oportunidades de interações sociais oferecidas, definindo, por exemplo, se serão compostos os grupos. Quanto maior a diversidade de grupos de que participar, mais numerosos serão os seus parâmetros de relações sociais, enriquecendo assim sua personalidade.

Reflexão sobre a prática pedagógica: Enfocando situações de conflito
Wallon em seus estudos da destaque ao estudo das crises e conflitos que encontra no processo de desenvolvimento da criança. Dedica sua atenção à analise da crise de oposição característica do terceiro ano de vida ilustra essa atitude de enfrentamento dos conflitos. Wallon mostra sua importância para o processo de construção da personalidade, atribuindo ao conflito eu-outro um significado positivo, dinamogênico.
Sob o impacto das emoções: No cotidiano escolar são comuns as situações de conflito envolvendo professor e alunos. Irritação, raiva, desespero e medo são manifestações que costumam acompanhar as crises, é possível perceber alguns traços comuns as interações conflituais, como a elevação da temperatura emocional e a perda de controle do professor sobre a situação. A relação de antagonismo que identifica entre as manifestações da emoção e a atividade intelectual nos autoriza a concluir que quanto maior a clareza que o professor tiver dos fatores que provocam os conflitos, mais possibilidade terá de controlar a manifestação de suas reações emocionais e, como consequência achara caminhos para soluciona-los. A atividade intelectual voltada para a compreensão das causas de uma emoção reduz seus efeitos. Devido ao poder epidêmico das emoções, os grupos apresentam atmosfera propícia para a instalação de manifestações emocionais coletivas. Nos adultos, são bem menos frequentes as crises emocionais, pois esses possuem mais recursos para o controle das emoções.
Crises de oposição: Nas situações de oposição é possível distinguirmos aquelas em que há um motivo concreto para tal atitude, e outras em que a oposição parece vazia de conteúdo, isto é, os alunos contestam o professor ou recusam-se a realizar uma proposta feita por ele pelo simples gosto de exercer a oposição, o professor se torna um alvo privilegiado para  tal exercício. É provável que as oposições não sejam contra a sua pessoa, mas contra o papel de elemento diferenciado que o professor ocupa. Procedimentos práticos que permitem ao professor lidar melhor com a situação devem ser encontrados por cada um, em seu contexto especifico.
A introdução de medidas concretas que visem possibilitar maior autonomia e responsabilidade ás crianças pode diluir a oposição e facilitar a convivência nos momentos críticos.


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Algumas frases de Henri Wallon:

“O indivíduo é social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de uma necessidade interna.”


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