Educação:
Entre o indivíduo e a sociedade
Tratando de temas como emoção, movimento, formação da
personalidade, linguagem, pensamento e tantos outros, Wallon fornece um valioso
material para a adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança. Wallon
também tratou de explicitar as suas considerações acerca da educação.
A educação tradicional, tendo por objetivo transmitir aos
alunos a herança dos antepassados e
assegurar-lhe o domínio de ideias e costumes que lhe permitiriam melhor se
adaptar a sociedade tal como é estabelecida, prioriza a ação dos adultos sobre
a juventude e acena com a perpetuação da ordem social, porém o movimento da
escola nova, ao buscar romper com a opressão do individuo pela sociedade,
acabou por desprezar as dimensões sócias da educação, preconizando o
individualismo.
A ideia de uma personalidade que se forma isolada da
sociedade é inconcebível para a perspectiva walloniana, segundo a qual é na
interação e no confronto com o outro que se forma o indivíduo. Ele considera,
portanto que a educação deve, obrigatoriamente, integrar, á sua prática e aos
seus objetivos, essas duas dimensões, a social e a individual: deve, portanto,
atender simultaneamente à formação do individuo e à da sociedade. As ideias de
Rousseau quanto à uma educação ativa, concreta e adequada ao desenvolvimento da
criança serviram como fonte de inspiração para as doutrinas da ESCOLA NOVA.
Para Wallon ao tentar resgatarem o valor do indivíduo,
simplesmente inverteriam os princípios e praticas do ensino tradicional.
Contrapondo-se ao autoritarismo do ensino tradicional, os escolanovistas
defendiam a condução do ensino pelo interesse da criança; como se a sua
natureza fosse, por si só, capaz de todo desenvolvimento e como se qualquer
intervenção do adulto fosse prejudicial. Questionando o caráter demasiado
livresco do ensino clássico, postulavam a necessidade de ação concreta da
criança, como se ela pudesse aprender tudo pelos órgãos dos
sentidos.Valorizando por demais a atividade da criança em sua espontaneidade,
acabavam por anular a necessidade do ensino sistematizado e da intervenção do
professor. Na busca de instaurar o respeito pelo indivíduo e acabar com a
opressão exercida pela sociedade, a Escola Nova ignorava as dimensões sociais
da educação, e preconizava o individualismo. Inspirados na atitude oposicional
de Rousseau deixavam sem solução a dicotomia entre indivíduo e sociedade.
Ainda nos dias de hoje nos debatemos sobre o
autoritarismo das concepções tradicionais, infelizmente predominantes no cenário
educacional. Neste debate (se é possível considerar um debate) mantém-se na
nossa realidade o risco de espontaneísmo que Wallon atribui a Escola Nova. A
superação do dilema entre o autoritarismo dos métodos tradicionais e o
espontaneísmo das praticas que se pretendem renovadas demanda um raciocínio
dialético, que enxergue as complexas relações de determinação recíproca que
existem entre indivíduo e a sociedade.
Dimensões Políticos-sociais da educação
A solução para esse impasse não se atinge somente com um
debate acerca dos métodos pedagógicos. Demanda uma reflexão política sobre o
papel da escola na sociedade. Segundo Wallon, entre o regime político de
determinada sociedade e o sistema educacional nela vigente a relação não de
mera casualidade. Mesmo que colocada explicitamente, a educação tem sempre um
papel político.
Se os regimentos políticos prolongam seus objetivos à
educação, esta deve, por sua parte, apropiar-se de seu papel político. Para
isso é preciso ter claro o projeto de sociedade que se quer. No caso de Wallon,
a opção é clara por uma sociedade socialista, caracterizada pela democracia e
justiça social.
Então é elaborado um projeto Langevin-WALLON, elaborado
por pessoas comprometidas com a reconstrução da sociedade, abalada física e
moralmente pela guerra, o projeto destaca a responsabilidade da educação neste
processo. Propunha a realização de mudanças profundas no ensino, visando acabar
com a perversa seletividade do sistema. Organiza todos os âmbitos do sistema de
ensino( administrativo, curricular, metodológico) em torno do princípio de
justiça social e os apoia sobre o conhecimento científico do ser humano em
desenvolvimento. Propunha o atendimento simultâneo das aptidões individuais e
das necessidades sociais, baseado na ideia de que o aproveitamento mais
adequado das competências de cada um se da o beneficio do individuo e da
sociedade, assim como a melhor distribuição das tarefas socias serve ao
interesse coletivo e á realização individual. Para a descoberta dos gostos e
preferências individuais previa um trabalho de orientação vocacional, a ser
realizado pelo psicólogo escolar.
Ao lado dos procedimentos psicopedagógicos, o projeto
previa procedimento de natureza financeira- além da gratuidade do ensino,
incluíam a implantação de um regime de remuneração ao estudante para assegurar
a todos os indivíduos o pleno desenvolvimento de suas potencialidades.
Ciente de que não se pode alcançar a justiça social
somente com mudanças no sistema educacional, o texto do projeto alerta para a
necessidade de mudanças na maneira de a sociedade, encarar as varias tarefas
sociais.
Uma
educação da pessoa completa
“ A ótica Walloniana constrói um criança
corpórea, concreta, cuja eficiência postural, tonicidade muscular, qualidade
expressiva e plástica dos gestos informam sobre seus estados íntimos. O olhar
se dirige demoradamente para a sua exterioridade postural, aproveitando todos
os indícios. Supõe-se que a sua instabilidade postural se reflete nas suas
disposições mentais, que a sua tonicidade muscular dá importantes informações
sobre seus estados efetivos”.
Ao contrario do que propõe a tradição intelectualista do
ensino,uma pedagogia inspirada na psicogenética Walloniana não considera o
desenvolvimento intelectual como a meta máxima exclusiva da educação, considera
meio para a meta maior do desenvolvimento da pessoa, afinal, a inteligência tem
status de parte no todo constituído pela pessoa. Se é possível delinear uma
escala para o desenvolvimento da pessoa, o grau mais elevado corresponderia a
um estado de máxima diferenciação, em que é tanto mais clara a fronteira entre
o eu e o outro e mais exatas as distinções que o sujeito opera entre as
nunances e a complexidade do real.
“ Ciente de que os progressos do pensamento se devem em
grande parte ao crescente domínio do sistema semiótico e que a capacidade de
diferenciação é poderosamente auxiliada pela apropriação das diferenciações
elaboradas pela cultura e cristalizadas nos sistemas simbólicos,
particularmente no código linguístico, a linguagem, a pedagogia Walloniana não
se furta a transmitir conteúdos. A diferenciação conceitual que a criança faz,
ou a capta, já realizada, na língua, são ambas aceitáveis. O uso preciso e
ordenado das palavras é entendido como manifestação de eficiência e rigor do próprio
processo mental. Longe de desprezar a aprendizagem linguística, ela considera
um poderoso auxiliar no progresso do pensamento”.
A psicogenética Walloniana não resulta em uma pedagogia
meramente conteudista, limitada a propiciar a passiva incorporação de elementos
da cultura pelo sujeito. Resulta em uma prática em que a dimensão estética a
realidade é valorizada e a expressividade do sujeito ocupa o lugar de destaque.
Na escola , este movimento de exteriorização do eu pode ser propiciado por
atividades no campo da arte, campo que favorece a expressão de estados e
vivências subjetivas.
Organização
do ambiente escolar
O meio é o campo sobre o qual a criança aplica as
condutas de que dispõe, ao mesmo tempo, é dele que retira os recursos para sua
ação. Com os progressos no campo da motricidade práxica, ganha autonomia para
agir diretamente sobre o mundo dos objeitos e, com a aquisição da linguagem
(oral e depois escrita) adquire recursos cada vez mais sofisticados para
interagir com o conjunto de técnicas e conhecimentos de sua cultura.
Sabendo disso deve-se dizer que o planejamento das
atividades escolares não deve se restringir somente à seleção de seus temas,
isto é, do conteúdo de ensino, mas necessita atingir as várias dimensões que compõem
o meio. A estruturação do ambiente escolar, deve, por fim, conter uma reflexão
sobre as oportunidades de interações sociais oferecidas, definindo, por
exemplo, se serão compostos os grupos. Quanto maior a diversidade de grupos de
que participar, mais numerosos serão os seus parâmetros de relações sociais,
enriquecendo assim sua personalidade.
Reflexão sobre a prática pedagógica: Enfocando situações
de conflito
Wallon em seus estudos da destaque ao estudo das crises e
conflitos que encontra no processo de desenvolvimento da criança. Dedica sua atenção
à analise da crise de oposição característica do terceiro ano de vida ilustra
essa atitude de enfrentamento dos conflitos. Wallon mostra sua importância para
o processo de construção da personalidade, atribuindo ao conflito eu-outro um
significado positivo, dinamogênico.
Sob
o impacto das emoções: No cotidiano escolar são comuns as situações
de conflito envolvendo professor e alunos. Irritação, raiva, desespero e medo
são manifestações que costumam acompanhar as crises, é possível perceber alguns
traços comuns as interações conflituais, como a elevação da temperatura
emocional e a perda de controle do professor sobre a situação. A relação de
antagonismo que identifica entre as manifestações da emoção e a atividade
intelectual nos autoriza a concluir que quanto maior a clareza que o professor
tiver dos fatores que provocam os conflitos, mais possibilidade terá de controlar
a manifestação de suas reações emocionais e, como consequência achara caminhos
para soluciona-los. A atividade intelectual voltada para a compreensão das
causas de uma emoção reduz seus efeitos. Devido ao poder epidêmico das emoções,
os grupos apresentam atmosfera propícia para a instalação de manifestações
emocionais coletivas. Nos adultos, são bem menos frequentes as crises
emocionais, pois esses possuem mais recursos para o controle das emoções.
Crises
de oposição: Nas situações de oposição é possível distinguirmos
aquelas em que há um motivo concreto para tal atitude, e outras em que a
oposição parece vazia de conteúdo, isto é, os alunos contestam o professor ou
recusam-se a realizar uma proposta feita por ele pelo simples gosto de exercer
a oposição, o professor se torna um alvo privilegiado para tal exercício. É provável que as oposições não
sejam contra a sua pessoa, mas contra o papel de elemento diferenciado que o
professor ocupa. Procedimentos práticos que permitem ao professor lidar melhor
com a situação devem ser encontrados por cada um, em seu contexto especifico.
A introdução de medidas concretas que visem possibilitar
maior autonomia e responsabilidade ás crianças pode diluir a oposição e
facilitar a convivência nos momentos críticos.
--
Algumas frases de Henri Wallon:
Comentários
Postar um comentário